sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ACAMPAMENTO 2009 -

ACAMPAMENTO 2009

Dia 10 de Julho – Sexta-feira

 

            No chão estavam espalhados sacos e colchões, malas e mochilas. Estava coberto de tudo aquilo que cada um precisaria para passar aquele fim-de-semana. Assim que cheguei procurei com o olhar, com rigorosa atenção, algum catequizando do meu ano e após encontrar um grupo deles, despedi-me da minha mãe e fui até lá. Notava-se em todo aquele lugar uma certa energia contagiante e esperava-se desde o início o melhor daquela nossa pequena aventura. Os grupos iam-se formando assim que passavam os minutos e de todos os lados apareciam adolescentes com mochilas às costas e colchões debaixo dos braços. Quem não soubesse o que ali se passava, intrigar-se-ia com tanto jovem sorridente e carregado até não poder mais. Bem, a hora estava a chegar e com o autocarro à espera toda a nossa bagagem começou a ser levada para dentro da mala do nosso transporte para ser levada para o nosso destino. 

            Chegados à quinta, após uma viagem que se demonstrou mais longa do que verdadeiramente era, devido à algazarra que se gerava no autocarro, deparamo-nos com jovens que simulavam antigos seguidores e amigos de Paulo, vestidos a rigor. Convidaram-nos a sentarmo-nos no chão sobre alcatifas e foi aí que esperamos pelo grupo que seguia no outro autocarro. Tudo desembarcado e sentado no chão, começou assim a verdadeira recepção a todos os grupos de catequese. Paulo (representado por Nuno Faria), vestido à época e acompanhado pelos símbolos daquele discípulo, iniciou a sua apresentação, explicando-nos o que deveríamos esperar do acampamento, regras e pequenas coisas que deveríamos tomar em conta. Disse-nos também que, este ano, os grupos de catequese seriam representados como comunidades por onde ele, Paulo, havia passado e evangelizado e assim sendo, fez-se a divisão, aleatoriamente, de quem seria quem. Foram formadas sete comunidades: Coríntios (de Corinto, representados pelo 9ºano), Filipenses, Colossence, Romanos, Gálatas, Tessalonissences, e Efésios.

            Com o dossier da sua comunidade na mão, cada grupo, guiado por um seguidor de Paulo (jovens que acima me referi) estava pronto a dirigir-se para a sua tenda onde deveria colocar toda a bagagem e preparar o que havia a ser preparado. Os minutos passaram rápido e pouco depois víamo-nos de mãos dadas em redor do sítio onde a maioria dos momentos se passariam, cantávamos “Por este pão, pão, pão, por este dom, dom, dom, nós te louvamos, louvamos, louvamos senhor…” e rezávamos um Pai Nosso agradecendo a refeição que iríamos tomar. Era assim que cada momento antes de cada refeição se iria passar, unidos a cantar e a rezar, o que de início se demonstrou algo sem sentido e, como costumamos dizer, uma “seca”, mas que com o passar do tempo se tornou algo que não nos importávamos de fazer e que demonstrava que estávamos ali para estar juntos e unidos. O jantar foi de partilha e cada comunidade conviveu e riu durante esse momento.

            O ar daquele lugar era limpo e trazia com a brisa um leve perfume da natureza, era bom estar ali, na companhia dos Coríntios e de todos aqueles que lá estavam, pessoas afáveis com quem rir era fácil e com quem conversar ainda mais fácil era. A noite veio por si própria, sem presas, trazendo um frio cortante por entre os montes e o sol ia-se escondendo deixando-nos até à manhã do dia seguinte. Fomos chamados para ir até ao campo de futebol da quinta onde veríamos o filme “Nunca é tarde Demais”, não partimos sem antes levarmos mantas e agasalhos suficientes para o tempo que estaríamos ao relento, e assim fizemos. 

“Nunca É Tarde Demais”     

            Pretendemos alcançar o firmamento, ir de encontro ao sol, descobrir a felicidade instantânea e constante, para isso, percorremos infindáveis caminhos, viajamos até ao outro lado do mundo, procuramos em lugares que não terão a resposta que queremos encontrar, vagueamos por entre ruas desertas e por entre multidões de rostos cansados do stress da vida. Talvez nos enganemos ao procurar durante metade da nossa vida por essa felicidade que não vemos que está mesmo à nossa frente. Viajamos por caminhos desnecessários, por vielas estreitas e florestas perigosas. Queremos o mundo e nunca nos contentamos nem admitimos que tudo o que precisamos está bem perto da nossa casa, tão perto do nosso coração. Era essa a mensagem do filme e aquela que fomos discutindo enquanto passávamos a bola perguntando algo que nos intrigava a quem a apanhasse, momentos após o visionamento do filme. Quanto a mim, perguntaram-me se já havia feito alguém feliz, e eu retribuo a pergunta: já fizeram alguém feliz? A mim disseram-me que sim, que eu já tinha feito alguém feliz: o Criador e os meus pais, e penso que quem mo disse tem toda a razão, gosto de acreditar que realmente sou alguém para alguém e isso traz-me sempre o saborear da palavra útil na minha existência. A verdade é que com este filme aprendi que a felicidade está na porta ou lado ou ainda mais perto, na chave do meu coração que entreguei a Cristo, durante o Compromisso da catequese deste ano. Ele poderá abri-lo, pois tem a chave, mas eu guardei uma cópia para ti ou para quem o quiser abrir, porque é com vocês que eu sou feliz, com todos aos quais sorrio como acto reflexo. E sei que todos guardamos várias cópias dessa chave e as entregamos durante a vida àqueles que queremos que estejam perto de nós, àqueles que amamos! Se conseguíssemos ver a riqueza que temos à nossa frente, talvez evitássemos tantas viagens que só acartam despesas e dores inconfortáveis. Como dizia Alexandre O’Neill num dos seus poemas: “Abre os olhos e olha”!

 

Dia 11 de Julho – Sábado 

            Foi uma das noites mais longas da minha vida, não preguei olho e penso que poucos o conseguiram fazer. Molhei os pés na piscina enquanto respirava fundo e relaxava, pensando no momento de oração do dia anterior, isto eram umas duas horas da manhã. Havia quem jogasse Poker ainda com o nevoeiro da noite a contribuir para a escuridão cerrada da madrugada. Outros conversavam na cozinha a preparar o dia de Sábado e havia também quem estivesse recolhido nas suas tendas, mas de certo, não estaria a dormir.

            A manhã de Sábado estava fria, com cara de poucos amigos, se assim o posso dizer. O nevoeiro da noite não se havia dissipado e isso contribuía para o meu enfado e cansaço. Foi nesta manhã que o 10ºano preparou uma surpresa para todos os campistas: a largada de balões, uma surpresa que dissipou qualquer sonolência. Com uma pequena encenação expuseram a sua mensagem e aquela que mais foi debatida durante o acampamento e que é importantíssima: a esperança! Estávamos receosos pelos balões que deveriam levantar voo, mas que com aquela manhã não parecia ser a ideia mais plausível. Todavia, contra as nossas faltas de esperança, os balões lá levantaram voo e voaram para longe como pretendiam os catequizados do 10ºano que acontecesse, demonstrando que a esperança nunca morre e que como os balões deveríamos seguir os nossos caminhos contra todos os obstáculos e todos os receios. A Esperança nunca morre!

            A tarefa daquela manhã, após o momento organizado pelo 10ºano, era transformarmos simples t-shirts brancas em “obras de arte” que apresentaríamos à tarde, juntamente com a bandeira de cada comunidade, feita também por nós, e uma representação em que cada grupo desse a entender quem era aquele povo que representavam, no tempo em que Paulo por lá havia passado. Atarefados, pusemos mãos à obra e foi altura, modéstia à parte, para os Coríntios brilharem. A originalidade começou a trabalhar e apresentamos uma pequena representação que compilava o maior erro da comunidade Coríntia: a infidelidade e o incesto. Todos participaram, dividimos tarefas e a cada um uma parte: uns trabalharam nas t-shirts, outros na bandeira, outros nos textos e outros na própria encenação e ideia geral. Foram boas aquelas duas ou três horas que tivemos para a realização e melhor ainda o momento da apresentação em que gravamos o símbolo, de linguagem gestual, para adoro-te junto do resto dos campistas, símbolo que talvez agora represente o acampamento 2009.

            Após a apresentação de cada comunidade durante o início da tarde, estava na hora do Peddy-paper: actividade em que teríamos que realizar certas tarefas para atingir os pontos que para elas estavam destinados. Foi uma tarde divertida, cada grupo a lutar pelos seus pontos, à procura do caminho e dos destinos, com um guia e com vontade de ganhar. Mais uma vez, como tudo naquele fim-de-semana, a tarde passou rápida e o seu fim estava próximo: hora de mergulhar na piscina que lá havia!

            Seguido de um breve momento de oração, veio o jantar e com ele um tempo frio que já nos tinha visitado na noite anterior. Era aquele “o” momento, o ponto alto, na minha opinião, do acampamento: o momento de oração realizado pelo grupo de jovens que foi algo indescritível. Mais uma vez, juntamo-nos no campo de futebol, desta vez recebidos na entrada por uma espécie de mordomo (representado pelo catequista Carlos), que vestia uma túnica preta com capuz e a sua voz era tão gélida como a noite. Uma a uma, cada comunidade, que trazia uma faixa com um pecado capital inscrito, dirigiu-se, seguindo o homem de veste preta, até às grades do campo onde penduraria a tal faixa, regressando depois para o lugar onde nos deveríamos sentar. Seguiu-se uma representação do grupo de jovens e a nossa faixa com o pecado inscrito foi substituída por uma faixa com um dom de Deus. Foi um momento marcante, talvez até arrepiante na forma como apresentado e verdadeiramente profundo. Penso que ninguém ficou de fora da mensagem do momento, em que mais uma vez entrava a esperança que não morre e que devemos sempre trazer connosco, e ainda a mensagem de que o mal pode e deve ser vencido com o bem! Não te deixes levar, vence o mal, com o bem!

 

Dia 12 de Julho – Domingo

 

            O dia reservado para a diversão. Durante toda a manhã a piscina não esteve vazia um minuto. Mas, a verdadeira atracção encontrava-se fora dela, onde se dançava ao som de músicas que todos conheciam e onde a boa disposição era sem dúvida o que mais ali se verificava. Não interessava o porquê, nem o quê, nem como, ali estava a pura diversão, a dança irradiava não só dos movimentos, mas dos olhos que brilhavam e dos lábios que detinham um enorme sorriso ao ritmo das melodias. Estávamos ali e estávamos felizes, cada um à sua maneira e o que importava é que se lá estávamos era para sentirmos toda aquela união e amizade.

            Foi antes do almoço que rezamos o último momento de oração antes de uma refeição, naquele acampamento, do que, sinceramente, vou ter saudades. A tarde passou ainda mais rapidamente do que a anterior. Depois do fantástico almoço, reunimo-nos em frente à cozinha para reflectirmos sobre aquele fim-de-semana. Claro que não foi apenas dos grandes e bons momentos que vieram à tona, foram também realçados pontos negativos que claro, existem sempre, mas que poderiam não ter existido. O respeito foi um deles, quero dizer, o respeito que não existiu, penso que esse foi, realmente, o erro mais grave! No entanto, tudo o resto esteve lá e disso não tenho dúvidas.

 

            E, para terminar, como disse o meu grande catequista e, por favor, nunca se esqueçam: o AMOR é o mais importante!

 

            Ah, uma última coisa, se tivesse que responder à última sugestão do catequista Hélder, que foi a de dizermos uma palavra para qualificar o acampamento, eu diria: indescritível!

           

 

Um obrigado a todos, em especial para o grupo de jovens e os meus catequistas: Nuno Pinto e Cristiana. E claro: vivam os CORÍNTIOS!

 

            Ana Évora

Anta, 18 de Julho de 2009